domingo, 27 de dezembro de 2015

EXAME VETERINÁRIO PODE SER ENVIADO PARA UM LABORATÓRIO HUMANO?

UM EXAME VETERINÁRIO PODE SER ENVIADO PARA UM LABORATÓRIO HUMANO?
por Thatianna Camillo Pedroso, Médica Veterinária, MSc.

A Medicina Veterinária busca o conhecimento especializado em seus diversos setores, entre eles o diagnóstico em análises clínicas, contudo, ainda é frequente o questionamento sobre a possibilidade de se analisar amostras veterinárias em laboratórios humanos e que problemas poderiam decorrer disto. A utilização das técnicas de patologia clínica humana em amostras veterinárias pode levar a falhas de análise e consequentemente, obtenção de resultados errados.

As particularidades das espécies animais devem ser consideradas em todo o processo, desde a coleta até a interpretação dos resultados. Os animais têm diferentes formas de resposta à anemia; diferentes valores de relação linfócito:neutrófilo; características específicas na morfologia celular, algumas intensamente diferentes, como eritrócitos nucleados em aves ou reptéis e até mesmo o tumor venéreo transmissível canino (TVTC), neoplasia exclusiva de cães.

A seguir encontram-se exemplos de situações e erros comuns quando laboratórios humanos analisam amostras provenientes de animais:
*Utilização de contadores hematológicos eletrônicos sem calibração para as diferentes espécies animais: hemácias de gatos são muito menores do que as de humanos, por isso, o contador confunde parte delas com plaquetas, diminuindo a contagem de eritrócitos e o volume globular (VG), enquanto aumenta o volume globular médio (VGM) e a plaquetometria;

*Corpúsculos de inclusão e hemoparasitas: não há familiaridade com os tipos de inclusões observadas nas células dos animais, diferentes daquelas vistas em humanos, por exemplo, o corpúsculo de Lentz, patognomônico da cinomose; e conhecimento teórico-prático sobre os hemoparasitas, que são diferentes entre cada espécie animal;

*Dosagens bioquímicas: aparelhos de análise bioquímica liberam sinais de alerta juntamente com os resultados que indicariam uma alteração, HI ou seta para cima quando alto e LO ou seta para baixo quando diminuído, porém esses aparelhados são previamente configurados para avaliar as dosagens a partir de parâmetros humanos, sendo necessário desconsiderar o alarme e reavaliar conforme o valor de referência da espécie em questão;

*Dosagens hormonais: hormônios peptídicos diferem em sua composição bioquímica entre as espécies, por isso, é necessário usar kits espécie-específicos em suas dosagens, caso do hormônio estimulante da tireóide (TSH), da triiodotironina (T3) e da tiroxina (T4);

*Características físico-químicas e do sedimento urinário: a análise química, realizada com tiras reagentes humanas é falha ao detectar alguns parâmetros da urina dos animais, por exemplo, a densidade específica e a presença de leucócitos; diferentes pHs podem ser considerados normais, de acordo com a espécie avaliada; e há ainda as diferenças fisiológicas, como cristais de carbonato de cálcio em equinos ou a bilirrubinúria em cães machos.

Todos estes exemplos reforçam a condição de que amostras provenientes de animais devem ser processadas em laboratórios veterinários, pois apenas o médico veterinário, tem em sua formação acadêmica, os pré-requisitos necessários para analisar, confeccionar laudos e interpretar esse tipo de material, o que o difere dos demais profissionais da saúde.     



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BUSH, B. M. Aspectos da interpretação. In:__. Interpretação de resultados laboratoriais para clínicos de pequenos animais. 1.ed. São Paulo: Roca, 2004. cap.1, p.18-24.
LABORATÓRIOS de diagnóstico: um mercado em expansão. VZ em Minas. Matéria da capa. Belo Horizonte: 2011. Ano XXI, n. 109, p. 6-12.

FONTE: http://www.diagno.vet.br/producao-cientifica/um-exame-veterinario-pode-ser-enviado-para-um-laboratorio-humano-39.html

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Dicas e mitos que podem matar seu animal.

Muitos mitos correm na internet sobre a saúde dos nossos animais de estimação. Algumas das informações que circularm podem (e colocam ) em risco a saúde dos nossos animais e geram grande preconceito, ocasionando muitas vezes o abandono. 

- Dica anti-envenenamento do Dr Marcell Benedetti (dica do "atroveran"): essa é, provavelmente, a receita caseira mais divulgada na internet, e pode trazer danos irreparáveis a cães e gatos com suspeita ou comprovação de envenenamento. O texto orienta o proprietário de um animal envenenado a usar água oxigenada seguido por algumas gotas de um medicamento chamado atroveran. A água oxigenada funcionaria como estimulante para que o animal vomite, e o atroveran teria a função de neutralizar venenos como chumbinho e 1080. Vamos então aos esclarecimentos: nem todo caso de envenenamento tem indicação de provocar vômito. Algumas substâncias ácidas ou cáusticas, ao serem ingeridas e posteriormente vomitadas, levam à extensas queimaduras químicas ao longo do esôfago e cavidade oral. Outro fator importantíssimo a ser considerado é o estado de consciência do animal. Animais com hiper estimulação do sistema nervoso central (causado por alguns tipos de substâncias) podem convulsionar, o que contra indica totalmente o vômito. Animais torporosos (sonolentos) também não devem ser estimulados a vomitar pelo risco de falsa via (engasgo). Ainda, em hipótese alguma se administram líquidos ou medicamentos por via oral em animais nessas condições pelo mesmo motivo (engasgo). Quanto ao atroveran, essa medicação não possui poder algum de neutralização de substâncias tóxicas, especialmente tratando-se do veneno 1080 (monofluoracetato de sódio), que não possui nenhum antídoto conhecido.


Ainda em relação a casos de envenenamento, várias receitas paralelas têm sido indicadas por leigos em fóruns online: leite, café, água morna, leite com soro (ou sem soro), azeite, carvão ralado em água gelada ou amassado com leite, buscopan, gema de ovos, quiabo com água batido no liquidificador, leite com açúcar, água com detergente, etc. Nenhuma dessas substâncias tem eficácia frente a casos de envenenamento e não devem ser administradas ao animal. A dica é correr com o animal para o veterinário levando consigo, quando possível, o nome ou o rótulo da substância ingerida para que os cuidados de suporte possam ser iniciados imediatamente.


- Solução de cânfora com álcool para matar pulgas e carrapatos: a cânfora pode levar à reações alérgicas e toxicidade em cães, gatos e crianças. Quando misturada ao álcool então, seus efeitos podem ser ainda mais prejudiciais. A ação dessa mistura sobre pulgas e carrapatos nada faz além de deixá-los um pouco tontos. Para que haja um controle efetivo de ectoparasitas (pulgas e carrapatos) se faz necessário controle ambiental aliado ao uso de produtos específicos para esse fim, sempre orientados por um médico veterinário.

- Quiabo batido no liquidificador cura cinomose: a cinomose é uma doença causada por um vírus e tem um alto índice de mortalidade entre cães não vacinados, especialmente quando não diagnosticada e tratada corretamente. É altamente contagiosa e caracteriza-se pela ocorrência de alterações respiratórias, digestivas e de sistema nervoso central. O tratamento envolve cuidados de suporte e antibioticoterapia de amplo espectro a fim de debelar infecções bacterianas secundárias que freqüentemente levam o animal à morte. A dica do suco de quiabo é bastante perigosa, uma vez que, além de não ter efetividade alguma no tratamento da doença, acaba por retardar e prejudicar o correto tratamento.

- Quiabo batido no liquidificador cura cinomose: a cinomose é uma doença causada por um vírus e tem um alto índice de mortalidade entre cães não vacinados, especialmente quando não diagnosticada e tratada corretamente. É altamente contagiosa e caracteriza-se pela ocorrência de alterações respiratórias, digestivas e de sistema nervoso central. O tratamento envolve cuidados de suporte e antibioticoterapia de amplo espectro a fim de debelar infecções bacterianas secundárias que freqüentemente levam o animal à morte. A dica do suco de quiabo é bastante perigosa, uma vez que, além de não ter efetividade alguma no tratamento da doença, acaba por retardar e prejudicar o correto tratamento.


Papinha milagrosa feita com fígado, quiabo e leite batidos no liquidificador para curar parvovirose e cinomose: a alimentação de um animal muitas vezes pode interferir no tratamento de doenças, da mesma forma que determinadas doenças impedem o uso de um ou outro tipo de alimentação. Pacientes nefropatas, por exemplo, não devem receber alimentação com altos níveis de proteínas. Pacientes hepatopatas por sua vez, devem receber uma alimentação específica a fim de poupar a função de um fígado já prejudicado pela doença. O que é bom e saudável para um animal, pode ser prejudicial a outro. Dessa forma, sair por aí indicando essa ou aquela dieta pode ser perigoso e levar à danos consideráveis à saúde dos animai
Papinha milagrosa feita com fígado, quiabo e leite batidos no liquidificador para curar parvovirose e cinomose: a alimentação de um animal muitas vezes pode interferir no tratamento de doenças, da mesma forma que determinadas doenças impedem o uso de um ou outro tipo de alimentação. Pacientes nefropatas, por exemplo, não devem receber alimentação com altos níveis de proteínas. Pacientes hepatopatas por sua vez, devem receber uma alimentação específica a fim de poupar a função de um fígado já prejudicado pela doença. O que é bom e saudável para um animal, pode ser prejudicial a outro. Dessa forma, sair por aí indicando essa ou aquela dieta pode ser perigoso e levar à danos consideráveis à saúde dos animai


- Limão com bicarbonato, uma combinação 1000 vezes mais potente que a quimioterapia: essa “mágica” promete curar o câncer. Porém, não existe nenhuma evidência que comprove cientificamente que limão misturado a bicarbonato (o mesmo serve para raspas geladas de limão) possa exercer algum efeito curativo a pacientes vítimas de tumores malignos. Tumores são massas originadas da multiplicação descontrolada das células, necessitando de medicações específicas que levem à lise (quebra) dessas células e ao controle dos sinais clínicos. As medicações utilizadas no tratamento do câncer são chamadas de antineoplásicos (quimioterapia, imunoterapia, hormonioterapia), e tem funções amplas e complexas no tratamento da doença, agindo diretamente no material genético das células modificadas. Jamais se aceitou que formulações caseiras possam substituir a ação dessas medicações e levar à remissão de tumores e a cura dos pacientes, sejam eles humanos ou animais. Portanto essa dica é falsa e muito perigosa, e não deve ser seguida.

Estas são apenas algumas das curas milagrosas que podem colocar em risco a saúde de nosso amiguinhos. Mas ainda há algumas outras informações as quais podem causar o abandono e o preconceito.


- Grávidas e gatos: Muitas pessoas leigas, e pasmem, muitos profissionais de saúde, inclusive médicos, quando lidam com mulheres grávidas logo alertam para o risco de toxoplasmose (para saber mais sobre esta sobre esta doença clique aqui). Acontece que a transmissão de um animal para uma pessoa não ocorre de forma direta, mas por meio de oocistos presentes nas fezes dos gatos, sendo ainda necessário o período de  pelo menos 2 dias de incubação destes oocistos no solo ou na água. Assim é muito difícil uma pessoa pegar toxoplasmose ao lidar com o animal. As formas mais comuns de contágio são pela ingestão de alimentos contaminados. Assim a prevenção da toxoplasmose passa evidentemente pela adoção de hábitos básicos de higiene, não pelo abandono dos gatos. Ah, só uma coisa, veterinárias gestantes continua, atendendo gatos e nem por isto contraem toxoplasmose.

Aumentando ainda mais este preconceito, circula na internet a imagem ao lado, acompanhado do seguintes texto:

"Isso e pra quem tem gato dentro de casa....

Isso vale a pena repassar
Cuidado com as mãos............

Era apenas um Cisquinho!!! A pessoa havia ido ao médico, pois estava sentindo um incomodo muito grande em um dos olhos, devido ao que presumia ser um cisco, pois havia arrumado uns armários no porão da casa, onde tinha muita poeira, fungos e coisas velhas. O médico disse que era apenas um 'cisquinho de nada' e prescreveu um colírio anti-alérgico contra a irritação..
Dias depois, o incomodo ainda persistia e o olho estava muito inchado, então decidiu consultar um outro médico que retirou o 'cisquinho'. Trata-se de um óvulo do protozoário toxoplasma gondi, um coccídio causador da toxoplasmose muito comum no líquido peritoneal de rato e que é também encontrado no gato e em carne de porco e poderia simplesmente cegar o portador do 'cisquinho de nada'.
Sempre que tiver dúvida procure a opinião de outro medico, nunca espere pra ver o que acontece, pois nem sempre dá tempo. E cuidado ao coçar os olhos com as mãos que não estejam devidamente lavadas. A gente não enxerga os micróbios, vírus e bactérias a olho nú. É isso aí, olho vivo!
Agora vejam abaixo o cisquinho de nada.
Não esqueçam de repassar.
É muito importante.!!!!!!!!!!!!!!!!"


A larva que aparece na imagem Não tem nada a ver com toxoplasmose!  Trata-se da larva de uma mosca conhecida como mosca do berne ou mosca berneira (Dermatobia hominis), a qual deposita seus ovos em outros insetos (moscas e mosquitos) e são estes transportadores (chamados de foréticos) que levam os ovos até o hospedeiro. NA pele destes hospedeiros, que pode ser até mesmo o ser humano, a larva se desenvolve no tecido subcutâneo. Portanto, as imagens apresentadas na postagem e as informações nela contidas não tem nada a ver com os gatos.

Assim, deve-se ter muito cuidado ao se buscar informações na internet, ou mesmo ao se dar atenção a pessoas que não tem o conhecimento necessário para prestar o cuidado adequado para seus animais.


A larva que aparece na imagem não tem nada a ver com toxoplasmose!  Trata-se da larva de uma mosca conhecida como mosca do berne ou mosca berneira (Dermatobia hominis), a qual deposita seus ovos em outros insetos (moscas e mosquitos - chamados de foréticos) que levam os ovos até o hospedeiro. Na pele destes hospedeiros, que pode ser até mesmo o ser humano, a larva se desenvolve no tecido subcutâneo. Portanto, as imagens apresentadas na postagem e as informações nela contidas não tem nada a ver com os gatos, porém amplia o preconceito contra estas criaturas tão admiráveis e aumentam o risco de abandono e maus tratos.

Assim, deve-se ter muito cuidado ao se buscar informações na internet, ou mesmo ao se dar atenção a pessoas que não tem o conhecimento necessário para prestar o cuidado adequado para seus animais. Se o assunto é a saúde e o bem estar de seu animalzinho, lembre-se: procure sempre um veterinário de sua confiança!


Juracir Bezerra
Médico Veterinário

quarta-feira, 13 de março de 2013

Diabetes mellitus em animais de estimação



Após a digestão, os açucares (glicose) contidos nos alimentos são absorvidos pela corrente sanguínea e levados até as células, onde servem como principal fonte de energia. Neste processo a atuação de um hormônio se torna fundamental para o bom funcionamento deste mecanismo: a insulina.

A insulina é produzida no pâncreas, cai na corrente sanguínea e ao chegas nas células onde se liga a receptores específicos. Esta ligação promove uma reação química na célula, a qual culmina com a ativação de um grupo de proteínas denominadas transportadoras de glicose (GLUT), que carreiam a glicose do sangue para o interior das células, onde finalmente os açucares são utilizados na produção de energia.
Porém, em determinadas circunstâncias, o pâncreas não produz insulina em quantidade suficiente, em outras ocorrem problemas não na produção de insulina, mas na sua ligação com receptores nas paredes das células, que não funcionam de forma adequada, assim os açucares se acumulam no sangue. A esta doença chamamos DIABETES.
Muitas pessoas estranham quando um veterinário fala “seu cão (ou gato) está com diabetes!”. Quase sempre o proprietário (prefiro cuidador ou responsável) do animal faz uma cara de espanto e retruca: “mas cachorro (ou gato) tem diabetes!?!?”. A resposta é, evidentemente: SIM!

Estimativas apontam que cerca de 1 em cada 400 cães ou gatos apresentem esta doença. Os sintomas geralmente apresentados envolvem sede excessiva (ingestão de grandes quantidades de água), grande volume urinário (em alguns casos pode ocorrer incontinência), perda de peso, aumento do apetite, cansaço, fraqueza, perda de visão dentre outros.
Diversos fatores podem levar à ocorrência de diabetes nos nossos animais de estimação, tais como: processos infecciosos e inflamatórios, em especial no pâncreas, além de alterações hormonais, uso de determinados medicamentos, se situam como principais causas de diabetes.

A diabetes é uma doença que apresenta alguns fatores de risco, ligados principalmente à condição corporal do animal – obesidade (para saber mais clique aqui), idade, afetando animais geralmente com animais entre 7 e 9 anos (ATENÇÂO: a diabetes pode ocorrer em animais de qualquer idade!) além de predileções raciais (Samoiedo, Schnauzer e Poodle miniatura e Bichon Frisé).

O diagnóstico é realizado por meio de exames laboratoriais (glicemia, sumário de urina etc), associado a uma criteriosa avaliação clínica.

O tratamento, praticamente na totalidade dos cães e na grande maioria dos gatos, exige a aplicação, pelo resto da vida do animal, de insulina. Anti-hiperglicemiantes de uso oral podem ser prescritos. Outras medidas também podem, e se fazem, necessárias, tais como controle do peso, melhoria da qualidade alimentar, realização de atividades físicas etc. O animal diabético exige acompanhamento e cuidado contínuo, compromisso e dedicação de seus cuidadores e um criterioso acompanhamento veterinário, porém, com o tratamento, seu animal, respondendo bem à medicação, pode ter uma vida plena , longa e feliz.

Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário

domingo, 20 de janeiro de 2013

Tromboembolismo Arterial Felino

Tudo começa assim: seu gatinho está relativamente bem, pode até ter manifestado uma falta de apetite  ou talvez, uma leve apatia, mas, em termos gerais, ele parece  bem, então, de forma repentina, ele fica paralisado dos membros posteriores e apresenta dor intensa. Bem, é desta forma que geralmente o tromboembolismo arterial se apresenta. Para muitos proprietários parece que o animal foi atropelado, ou sofreu um trauma. Esta é uma condição difícil, sendo um desafio para muitos veterinários. Mas, vamos conhecer um pouco mais sobre esta doença!

Doença de início geralmente repentino, o tromboembolismo é uma emergência clínica e está, na grande maioria dos casos, relacionado a uma cardiomiopatia (doença na qual os músculos do coração ficam anormalmente rígidos ou grossos). Animais com cardiomiopatia sofrem alterações cardiológicas que acabam levando a uma redução no fluxo sanguíneo dentro do coração, o que causa um "estagnação" do sangue nas câmaras cardíacas ocasionando a formação de coágulos (geralmente no lado esquerdo do coração). Estes coágulos, ou um fragmento destes, se soltam, caem na corrente sanguínea e percorrem o corpo até chegar a  um vaso de menor calibre. Lá, o trombo se fixa e bloqueia a passagem de sangue. Desta forma, todos os tecidos a partir deste ponto ficam com seu suprimento sanguíneo prejudicado. No caso dos gatos, o local onde isto ocorre com maior frequência é na trifurcação distal da artéria aorta, que é a porção em que se formam as artérias ilíacas, responsáveis pela irrigação dos membros posteriores. Eventualmente, porém de forma rara, os êmbolos podem bloquear outros vasos sanguíneos no cérebro, no trato gastrointestinal, nos pulmões, fígado ou nos rins.

Com a obstrução vascular e perda da irrigação da região posterior são manifestados os sintomas mais comumente observados:

- Dor;
- Palidez;
- Redução da sensibilidade;
- Paralisia;
- Déficit de pulso dos membros posteriores;
- Extremidades frias.

O tromboembolismo aórtico é mais comum em gatos machos, por estes serem mais predispostos à cardiomiopatia, e dentre as raças a abissínia se mostra mais suscetível, porém, animais de qualquer raça e sexo podem apresentar a doença. No tocante à idade, gatos de meia idade são mais predispostos, porém esta doença pode ocorrer em animais de qualquer idade. 

O tratamento de animais com tromboembolismo se baseia essencialmente no controle da dor, no manejo das alterações cardíacas associadas, uso de medicamentos para promover a dissolução do trombo e evitar que novos trombos de formem (anticoagulantes), estabilização fisiológica do paciente (hidratação venosa, uso de vasodilatadores e diuréticos, dentre outras medidas). 

O prognóstico é geralmente reservado, uma vez que apenas 35% dos animais que sofrem esta doença sobrevivem, e dentre estes há um severo risco da ocorrência de novos episódios.

A prevenção se dá essencialmente pelo diagnóstico precoce das doenças cardiológicas, monitorização e uso de anticoagulantes em animais portadores deste tipo de alteração.


Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário

Referências: 

_________: Tromboembolismo arterial nos gatos. Disponível em: http://www.instinto.pt/site/artigo.php?AGtTZAtela9Xr1tela9Xr1=ADNTM1RlCGQtela9Xr1

_________: Feline aortic thromboembolism. Disponível em: http://www.emergencyclinic.ca/feline-aortic-thromboembolism-2/

It, V., Mucha, C.J., Belerenian, G., Artese, J.M. Tromboembolismo Arterial Felino. Disponível em:  http://www.aamefe.org/trombo_art_fel.htm

Philip R Fox : Feline Thromboembolism - New Clinical Persopectives. disponível em: http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2007/pdf/52_20070401192654_abs.pdf




sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cinomose Canina



Tenho atendido um crescente número de casos de cinomose nos últimos dias, por isto, decidi retomar as postagens no nosso blog abordando esta importante doença que acomete nossos animais.

A Cinomose é uma doença infecciosa causada por um vírus, da família paramixovirus, que acomete  diversos animais domésticos e selvagens (cães domésticos e selvagens, ferrets, raposas, lobos,lontra, ariranha, gambás, guaxinins dentre outros), porem, nesta postagem, voltaremos nossa atenção para os nosso fieis companheiros: os cães.

No caso da cinomose canina, diversos tecidos podem ser infectados pelo vírus, e portanto, a sintomatologia é bastante variada e se modifica ao longo do desenvolvimento da doença.

O vírus é transmitido através do ar através da tosse por animais infectados e também por meio de secreções corporais, tais como urina. Cães de qualquer idade podem ser afetados, no entanto, a maioria são filhotes com menos de 6 meses de idade.

Corrimento nasal

Após a infecção, o animal passa por um período de incubação (em que não manifesta sintomas) que varia, em média, de 3 a 14 dias. Após esta fase, inicia-se um quadro sintomático inespecífico, neste,  os cães podem apresentar sintomas gerais de febre, perda de apetite, discreto corrimento nasal e ocular. Após 2 ou 3 dias, o animal passa então a manifestar os sintomas mais intensos da doença, que , pode se manifestar par variados sintomas, os quais podem incluir:
- Febre, o que pode aumentar e diminuir;
- Corrimento nasal;
- Secreção ocular, geralmente purulenta;
- Depressão;
- Tosse;
- Espirros;
- Vômitos;
- Diarréia;
- Falta de apetite;
- Apatia;
- Fraqueza
- Dificuldade em respirar;
- Hiperqueratose (endurecimento) dos coxins (a almofada das patas)  e do focinho;
- Espasmos musculares 
- Desorientação;
- Fraqueza muscular;
- Anormais movimentos mandibulares;
- Atrofia da retina;
- Hipoplasia do esmalte dentário;
- Encefalite;
- Pneumonia (intersticial);
- Convulsões;
- Paralisia.

Conforme a predominancia dos sintomas a literatura cita as formas digestivas (diarréia e vômito), pulmonares (pneumonia , tosse, corrimento nasal e ocular) e/ou neurológicas (desorientação, tremores, tiques). Estas formas podem surgir isoladamente ou em conjunto.

Nos cães domésticos a cinomose apresenta uma alta taxa de letalidade (50 a 75%), e mesmo aqueles animais que se recuperam podem apresentar sequelas neurológicas e/ou visuais permanentes.

O tratamento de animais com cinomose se baseia essencialmente na prevenção às chamadas infecções oportunistas, hidratação, anticonvulsivantes e pelo uso de soro específico (imunoglobulinas que ajudam a combater o vírus)

A forma mais eficiente de se prevenir a cinomose é por meio da vacinação, porém, dentre os casos que, como citei inicialmente, tenho atendido, muitos haviam sido vacinados, porém este processo foi realizado com vacinas ditas "comerciais" (de qualidade e preço inferiores), e sem o devido acompanhamento veterinário , o que pode proporcionar sérias falhas no processo de imunização (para saber mais sobre vacinas clique aqui). Após se recuperar de infecção natural, o animal passa a apresentar imunidade de longa duração a qual se preserva desde que o animal não seja exposto a grande quantidade de fonte de infecção ou não tenha seu sistema imunológico comprometido.



Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário


Referências:

PACHALY, José R. Doenças infecciosas de cães e gatos
FOSTER & SMITH Distempter in pupies and dogs. Acesso: http://www.1800petmeds.com/education/canine-distemper-symptoms-dogs-49.htm
RAMSEY, Ian K - Manual de doenças infecciosas em cães e gatos


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Expressão corporal de cães e gatos

Não adianta dizer que animais não falam, pois isto, definitivamente não é verdadeiro. Claro, a linguagem dos animais não é  expressa da forma como nós, seres humanos gostaríamos que fossem, mas por muitos meios os cães conseguem expressar "pensamentos", sentimentos, desejos e intenções. Qualquer um que tenha um cão ou gato já sabe que determinados comportamentos ou atitudes significam alguma coisa: pegar um brinquedo, geralmente quer dizer "- quero brincar", mexer no comedouro: "- estou com fome!" "- quero comida!", apoiar-se e arranhar uma porta "- quero sair!". Estes dentre muitos outros comportamentos e atitudes fazem parte da linguagem dos animais, e um olhar atento permite facilmente identificar esta, nem sempre discreta, linguagem. Reunimos nas imagens abaixo algumas posturas próprias de cães e gatos as quais são muito  presentes e podem falar muito e, em algumas circunstância servir de alerta: "- cuidado comigo!" "-não se aproxime!. Escutar esta linguagem é fundamental para um relacionamento harmonioso com os seus e com os outros animais.  


Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Quando meu gato é considerado sênior?


Um toque de cinza na pelagem do queixo, olhos brilhantes claros tornando-se um pouco opacos. Uma ligeira rigidez no que costumava ser uma marcha saltitante. Qualquer um destes pode ser um sinal indicador de que o seu amigo peludo está entrando nos “anos dourados”.

De um modo geral, um gato já a partir dos 7 anos já pode ser considerado com sênior.
 Fatores que afetam na idade gatos incluem peso corporal, nutrição, ambiente e saúde em geral.

O velho ditado que a cada ano na vida de um gato é equivalente a sete anos "humano" não é bastante preciso. Animais de estimação amadurecer mais rapidamente durante os dois primeiros anos de vida, e novamente durante o terço final de sua vida. Use a tabela ao lado para avaliar, de forma comparativa, a idade de seu gato com o envelhecimento de um ser humano.

Por que é importante saber a verdadeira idade do seu gato?
Animais de estimação estão vivendo mais do que nunca, graças a avanços nos cuidados veterinários e na melhoria da nutrição, proporcionando aos seus proprietários muitos mais anos de amor e companheirismo fiel. Em contrapartida, o fato é que, de forma similar ao seres humanos, quanto mais os animais envelhecem mais vulneráveis ​​se tornam a vários problemas e doenças, tais como obesidade, problemas articulares, problemas cardíacos, nos rins,  fígado e doenças crônicas como diabetes, além de problemas odontológicos e periodontais, alterações comportamentais e câncer. A boa notícia é que muitos desses problemas de saúde pode ser evitada, controlada, ou tratados se detectados nas fases iniciais.

Uma vez que o seu gato alcançou um status de sênior, a avaliação clínica e exames próprios para acompanhamento da saúde de seu animal passam a ser recomendáveis não mais anualmente, mas semestralmente.

Agindo com cautela, e tendo a atenção , carinho e cuidados adequados, os “anos dourados” de seu gato serão felizes e saudáveis. Procure um veterinário de sua confiança.



Este texto é uma livre tradução e adaptação da página: http://gwlah.com/gwlah/feline_when_senior.pdf
Imagem: http://img.ehowcdn.com/article-new/ehow/images/a06/gc/lf/senior-cat-behavior-800x800.jpg