segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Coceira (parte1): alergia

Meu cachorro (ou gato) está se coçando, o que ele tem? Qual o  remédio? Estas são, provavelmente, as perguntas que ouço com maior frequência de clientes, amigos, parentes, conhecidos, desconhecidos.. .nada contra, mas é que as respostas possíveis são muito mais complexas do que as pessoas pensam. A coceira, ou prurido, não é, em si uma doença, mas um sintoma, e portanto pode estar presente em diversas doenças.
Em primeiro lugar: é impossível um veterinário diagnosticar a causa de uma coceira sem examinar o animal, fazer um extenso questionário ao proprietário e, frequentemente solicitar exames complementares (hemogramas, raspados cutâneos, biópsias etc). Este é a primeira de uma série de postagens que vão abordar este problema e suas principais causas. Hoje vamos falar de: Alergia!
É isto mesmo, assim como nós, seres humanos, os animais (é, eu sei, nós também somos animais) também podem apresentar quadros alérgicos, e dentre um dos sintomas comuns nestes casos está a coceira.
Alergia é, de uma forma bem simplista, uma reação exagerada do organismo a uma determinada substância. 
Há, essencialmente três tipos de alergia em cães e gatos, conforme a origem: dermatite alérgica a picada de pulgas (e a outros parasitas), intolerância alimentar e atopia.
A Dermatite Alérgica a Picadas de Pulgas (DAPP), na verdade não é adequadamente descrita por seu nome, uma vez que carrapatos, mosquitos e outros insetos podem desencadear, com sua picada ou ação mecânica reações alérgicas em alguns cães e gatos.  A saliva (!) destes aracnídeos e insetos contem substâncias que podem ser desencadeadoras de reações alérgicas. Muitas vezes o proprietário relata que nunca viu uma pulga no seu cão (ou gato), mas aí é que está o problema: basta, por exemplo, uma única pulga para desencadear o processo, e dificilmente esta será percebida!
Os principais sintomas são: coceira, principalmente na região da virilha, base da cauda e nádegas, queda de pelo nestas áreas, e feridas, geralmente dispersas em todo o corpo. Nos gatos pode-se notar a ocorrência de crostas (cascas), principalmente no pescoço e peito.
O tratamento para a DAPP é baseada notadamente no controle de pulgas e carrapatos (para saber mais clique aqui),e, conforme o caso, com o uso de medicamentos sintomáticos (sempre com orientação médico veterinária!!!)
A Intolerância Alimentar é uma reação alérgica provocada geralmente, por produtos químicos contidos nas rações, ou ainda, em algumas proteínas contidas na carne, especialmente bovina. No caso de animais alimentados com "comida caseira" este tipo de problema pode ser decorrente também de vários condimentos comumente utilizados no preparo da "alimentação humana" que é oferecida aos animais.
Os principais sintomas são manifestados com coceira intensa, vermelhidão e descamação na pele, e frequentemente, lesões de automutilação, provocados pela ação das unhas dos animais ao se coçarem.
O tratamento, geralmente está associado ao fornecimento de alimentação específica (ração ou comida caseira) prescrita por médico veterinário. 
A Atopia, dentre as alergias em animais de estimação, é um grande desafio, principalmente pela grande variedade de substâncias que podem estar envolvidas: produtos de higiene doméstica (sabão em pó, desinfetantes, detergentes etc), xampus, perfumes (tanto o dele quanto o seu!!!), polem de flores, material de construção, fumaça (inclusive de cigarro), remédios... a lista é praticamente infinita...
Os sintomas da atopia são semelhantes aos da intolerância alimentar. O tratamento, muitas vezes é difícil, dada a dificuldade de se detectar a causa. O uso de produtos hipoalergênicos, mudanças nos procedimentos de higiene doméstica (não utilizar desinfetantes comuns, sabão em pó ) e do animal são fundamentais. 
Um alerta em relação às alergias é que, comumente, os animais são inadequadamente tratados, e muitos acabam tomando doses altas e por muito tempo de corticóides e outros medicamentos sem a orientação adequada, o que pode ser extremamente prejudicial á saúde de seu animal e não resolve efetivamente o problema. Muitos proprietários querem também um tratamento rápido, o que geralmente não é possível. Problemas alérgicos podem levar semanas, e mesmo meses para  serem diagnosticados e tratados, e em alguns casos, o animal precisa tomas doses regulares de medicamentos para controles dos sintomas, em um procedimento denominado pulsoterapia, sem contar que alguns procedimentos precisam ser conduzidos por toda a vida do animal.
Então da próxima vez que seu animal estiver se coçando, não vá pela "dica do vizinho", nem pelo remedinho "prescrito" pelo dono do pet shop, ou pelo balconista. Procure um veterinário, tenha paciência, pois o tratamento poderá ser demorado, e seja cooperativo, pois o sucesso do tratamento  dependerá muito de sua atitude e esteja atento, pois os resultados, em alguns casos nem sempre serão tão efetivos quanto o esperado pelo proprietário e/ou pelo clínico.

Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Enfermidade do Trato Urinário Inferior dos Felinos:Um guia para proprietários


A doença do trato urinário inferior dos felinos(DTUIF) consiste numa variedade de condições que afetam a bexiga e uretra dos gatos.Geralmente os gatos que são afetados por esta enfermidade apresentam dificuldade e dor ao urinar,aumentam a frequência em urinar e também pode haver sangue na urina.Eles tendem a aumentar a lambedura na região do pênis ou vagina e podem apresentar alterações no comportamento,como micção fora da caixa-de-areia,preferindo superfícies frias e lisas,como azulejos e banheiros.
O problema pode afetar gatos de todas as idades,entretanto,animais de média idade,com sobrepeso,sedentários,que alimentam-se de dieta seca,sem acesso externo,são os mais comumente afetados.Alguns fatores como estresse emocional ou ambiental,famílias com vários gatos,mudanças bruscas no dia-a-dia do gato,aumentam o risco do desenvolvimento da DTUIF.
Os principais sintomas são:Esforço para urinar,mantendo-se em posição agachada,sem expelir nada de urina,o que muitas vezes pode ser confundido com constipação ou dificuldade em defecar.Urinar em pequenas quantidades e frequentemente;Dor e choro ao urinar;Lamber-se excessivamente na região genital;Sangue na urina e micção em lugares inapropriados.
Um estágio mais grave da DTUIF é a obstrução uretral,que é o fechamento da passagem de urina da bexiga até o exterior,cujo os sinais são semelhantes,porém o gato não urina quase nada e mantêm-se mais moribundo e dolorido.A obstrução acontece mais em machos,visto que a uretra da fêmeas é de diâmetro mais largo.É importante perceber um quadro de obstrução uretral rapidamente,pois o animal sempre merecerá um tratamento emergencial.
As causas são variadas:Obstruções por cálculos,microcálculos ou" plugs",estes últimos são formados na bexiga pela deposição de microcristais e material inflamatório protéico,o que formam verdadeiros tampões na uretra;Cistite Idiopática Felina,que é uma alteração inflamatória na parede da bexiga,muito associada ao estresse,onde ocorre uma inflamação generalizada na mucosa do orgão,com sangramento,dificultando a contração e a eliminação da urina.Infecções urinárias não são comuns,devido às particularidades da urina do felino,como a alta densidade e osmolaridade,que impede o crescimento de bactérias.Porém,em animais idosos ou com problemas renais devem ser consideradas.
O tratamento depende da causa da DTUIF,mas consiste principalmente em anti-inflamatórios,mudança de manejo ambiental e dietético, e muita hidratação.Em casos mais graves como os obstrutivos, o animal poderá ser internado para sondagens e soroterapia intensiva.Em alguns quadros mais graves e repetitivos,poderá ser necessário um procedimento cirúrgico denominado "uretrostomia",que é uma nova abertura uretral,com amputação peniana.É muito importante levar o gato rapidamente ao veterinário,evitando dar medicações,pois qualquer erro ou demora as consequências podem ser fatais.
Existem algumas formas de prevenir e tentar diminuir as crises ou o aparecimento desta enfermidade,que consistem em medidas simples,como:Aumentar a frequência de alimentação,em pequenas quantidades diárias;Consultar a um médico-veterinário para conhecer a dieta mais indicada para seu felino;Preferencialmente oferecer dietas úmidas(enlatadas);Água fresca e abundante em várias partes do ambiente;Quantidade de liteiras compatível e suficiente para todos os gatos da casa,preferencialmente uma a mais que o número de habitantes.Estas caixas-de-areias devem permanecer limpas e em lugares tranquilos e seguros.Deve-se evitar mudanças ambientais bruscas e minimizar todo o tipo de estresse.O enriquecimento ambiental é também importante,devendo-se proporcionar alternativas,jogos e atividades para os animais.

*Baseado no informativo da American Veterinary Medical Association(www.avma.org)
 
Este artigo foi gentilmente cedido pelo Dr.  Reginaldo Pereira de Sousa Filho, Médico-Veterinário  CRMV-CE 1589 - Pós-Graduação em Clínica de Felinos -UCB/RJ
Recomendamos  o blog medfelina.blogspot.com